Neurologia Preventiva

As doenças neurológicas tornaram-se uma das principais causas de incapacidade e mortalidade em todo o mundo com o rápido envelhecimento das populações.

A maioria das doenças neurológicas tem uma fase prodrómica (assintomática) prolongada e pode levar um curso muitas vezes deletério, criando um grande peso para os doentes, cuidadores e sociedade.

A natureza única das doenças neurológicas significa a forte necessidade de estratégias de prevenção primária e secundária e no foco na saúde do cérebro antes que as doenças cerebrais ocorram.

O campo da neurologia preventiva aplica estratégias de prevenção primária universais e seletivas para promover a saúde do cérebro, tanto a nível da comunidade como pessoal. A abordagem da neurologia preventiva visa identificar indivíduos de alto risco e protege-los de atingir um ponto crítico onde os sintomas clínicos já estão presentes e a progressão da doença é irreversível.

O crescente campo da neurologia preventiva visa avaliar as necessidades de cuidados neurológicos na sociedade, promover a participação dos neurologistas na reestruturação das políticas de saúde para promover a saúde do cérebro e identificar indivíduos de médio e alto risco para prevenir ou atrasar futuras doenças neurológicas.

Ao longo do século XX, existiu uma crescente evidência científica proveniente de ensaios clínicos e estudos de referência de base populacional, como o Framingham Heart Study. Este desenvolveu uma base para a identificação de “factores de risco” para doenças não transmissíveis. Para além deste grande estudo observacional, vários ensaios clínicos demonstraram que o controlo e a modificação desses factores de risco podem reduzir o peso das doenças não transmissíveis, onde se englobam as doenças neurológicas.

Nas últimas décadas, estes desenvolvimentos científicos traduziram-se em transformações nos cuidados de saúde, influenciando significativamente as diretrizes de prática clínica em vários países.



Da doença cerebral ao Cérebro Saúdavel

A prática moderna da neurologia defende intervenções precoces e eficazes após a ocorrência e diagnóstico de uma doença neurológica. No entanto, no momento em que a maioria das condições neurológicas se manifestam clinicamente, as alterações patológicas no sistema nervoso já foram estabelecidas e muitas vezes são irreversíveis.

Por outro lado, a maioria das doenças neurológicas são crónicas e têm grande peso social e económico. Existe assim uma grande necessidade de estratégias de prevenção primária e secundária eficazes.

O conceito de “saúde cerebral” surgiu nos últimos anos com ênfase na proteção do cérebro de atingir um ponto crítico onde os sintomas clínicos evidentes estão presentes e a progressão da doença é irreversível. Falta ainda uma definição unificada para saúde cerebral e às vezes é usada de forma intercambiável com saúde cognitiva.

A saúde cerebral é um conceito mais abrangente que engloba vários domínios da função cerebral e endossa a importância de proteger a integridade estrutural e funcional do cérebro durante o início, meio e fim da vida. A manutenção da saúde cerebral leva à preservação do processamento do pensamento, das ações planeadas e das conexões sensoriais, motoras e emocionais, que influenciam positivamente a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos, famílias e comunidades.

As abordagens preventivas em neurologia têm muitas implicações para a saúde pública.

Por exemplo, existe evidência científica de que cerca de 40% dos casos de demência, uma das condições médicas mais devastadoras e dispendiosas a nível mundial, podem ser prevenidos ou retardados através de estratégias multimodais e viáveis ​​de modificação do risco. A implementação de tais medidas preventivas requer o envolvimento de profissionais altamente treinados, médicos que entendem a função e estrutura do cérebro e se concentram na saúde do cérebro, e não necessariamente nas doenças cerebrais.

O reconhecimento precoce de doentes com marcadores sociodemográficos, clínicos e biológicos de alto risco pode ser obtido através de consultas de neurologia preventiva, onde um neurologista dedicado pode avaliar os doentes e sinalizá-los para modificação e monitorização de risco a longo prazo.

No entanto, a nível da população, a educação pública sobre sinais e sintomas e a promoção de comportamentos saudáveis ​​podem atingir uma grande quantidade de pessoas.

A educação e o cuidado de doentes em risco devem ser baseados em recomendações seguras e baseadas em evidencia científica focadas na saúde cerebral, como a modificação do estilo de vida com dieta, exercício físico, exposições ambientais e controle de fatores de risco vasculares (por exemplo, pressão alta, colesterol alto e diabetes). O American Heart Association Life's Simple 7 é um exemplo de um score para avaliação e promoção da saúde cerebral.

A Neurologia preventiva tem um papel fundamental na manutenção de uma óptima saúde cerebral individual mas também comunitária. Saiba mais informação no artigo: o papel da prevenção para um bom envelhecimento cerebral.

Artigo baseado em: Sabayan B. Opinion & Special Article: Preventive Neurology An Emerging Field Toward Brain Health. Neurology Nov 2021

Veja um vídeo sobre a Neurologia Preventiva.

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